O Encerramento do Ano Litúrgico e a Preparação Para o Natal
Do fim ao recomeço: o encerramento do Ano Litúrgico e a preparação para o Natal são como duas portas que se tocam: ao mesmo tempo em que a Igreja nos convida a fazer memória agradecida de tudo o que vivemos ao longo do ano, também nos chama a abrir o coração para acolher de novo o mistério do Deus que vem ao nosso encontro. Não se trata apenas de uma mudança de cor litúrgica ou de um novo tempo no calendário, mas de um movimento interior: passar do “balanço espiritual” à esperança renovada, da contemplação de Cristo Rei à espera do Menino Deus que nasce em Belém.
Ao concluir o Ano Litúrgico, a liturgia nos apresenta a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Essa festa não exalta um rei distante, poderoso aos moldes do mundo, mas proclama a realeza de Cristo que reina pela cruz, pelo serviço e pelo amor. Ele é o Rei que se faz servo, o Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Contemplar Cristo Rei, ao final do Ano Litúrgico, é deixar que o seu modo de reinar interrogue o nosso modo de viver: quem, de fato, governa as nossas escolhas? O Evangelho, ou outros “senhores” – o consumismo, o egoísmo, o orgulho, a indiferença?
O fim do Ano Litúrgico também nos recorda a dimensão última da vida: as leituras falam do fim dos tempos, do juízo, da vigilância. Longe de provocar medo, essas palavras querem despertar responsabilidade e maturidade espiritual. A Igreja nos lembra que a história caminha para um cumprimento em Deus e que a nossa vida não é um amontoado de episódios soltos, mas uma caminhada com sentido. Ao olhar para trás, somos convidados a reconhecer quantas vezes o Senhor esteve conosco, em alegrias e cruzes, e a perguntar seriamente: o que fiz com a graça que recebi? Cresci na fé? Deixei-me converter? Partilhei, perdoei, recomecei?
Esse “exame” de fim de ano litúrgico não é para gerar culpa paralisante, mas para despertar gratidão e desejo de conversão. A gratidão nos faz ver quantas sementes de bem Deus lançou no solo da nossa história: celebrações, encontros, palavras, pessoas, gestos simples que alimentaram nossa fé. A conversão nos move a reconhecer nossas incoerências e pecados, e a acolher de novo a misericórdia que o Senhor nunca se cansa de oferecer. É como se a Igreja nos dissesse: “Não feche este Ano Litúrgico na indiferença. Entregue-o nas mãos de Cristo Rei, com tudo o que deu certo e com tudo o que ainda precisa ser curado”. Perdoe, o perdão não é para o outro, mas para você mesmo, para deixar para trás dores e feridas; para recuperar a alegria e a paz, teu coração precisa deste perdão, ele merece saltar e vibrar livre, resgatando e relembrando que es a luz de Jesus dentro de ti, que não pode estar apagada!
Dessa experiência nasce, então, a preparação para o Natal. O Advento se abre como um tempo de espera e de vigilância, não de qualquer jeito, mas uma espera ativa, cheia de esperança. Não se trata apenas de preparar festas, enfeites e presentes, mas sobretudo de preparar o coração. O Deus que vem na fragilidade de uma criança pede um lugar no nosso interior, nas nossas famílias, nas nossas comunidades. É fácil falar de Natal; difícil é permitir que o Natal nos transforme. Entre o fim do Ano Litúrgico e o início do Advento, somos convidados a passar do “Cristo Rei” ao “Menino de Belém”, sem perder de vista que é o mesmo Senhor: Rei servo, Deus frágil, Senhor humilde.
Preparar-se para o Natal, à luz do encerramento do Ano Litúrgico, significa também rever nossas prioridades. Em um mundo marcado pela pressa e pelo consumo, o risco é viver um “natal” apenas comercial, cheio de ruído, mas vazio de sentido. A liturgia, porém, vai na direção contrária: pede silêncio, escuta, oração, vigilância. João Batista, Maria e José tornam-se mestres desse tempo. João clama pela conversão do coração; Maria nos ensina a acolher a Palavra; José mostra a fé que obedece mesmo quando não entende tudo. Eles nos ajudam a compreender que não há verdadeiro Natal sem um caminho de Advento: sem mudança interior, sem abertura ao novo de Deus, sem atenção às necessidades dos irmãos.
O fim do Ano Litúrgico, com sua forte lembrança das realidades últimas, também ilumina a forma como vivemos o Natal. Se Cristo é Rei e Senhor da história, o seu nascimento não é um conto bonito para aquecer o coração, mas um evento que pede resposta. A Encarnação é Deus entrando na nossa história para nos salvar por dentro. Celebrar o Natal é deixar que esse Deus feito carne toque as nossas feridas, cure as nossas relações, nos tire da indiferença diante dos pobres, sofredores e excluídos. Se ao encerrar o Ano Litúrgico fomos chamados a olhar para o juízo de amor de Cristo, o Natal nos recorda que ele se apresenta a nós justamente na fraqueza das “manjedouras” do mundo: crianças vulneráveis, famílias em dificuldade, migrantes, pessoas sozinhas.
Por isso, este tempo de passagem convida também a atitudes concretas. Não basta mudar o pano do altar ou a cor da casula; é preciso deixar que Deus mude o nosso coração. Um bom modo de viver essa transição é unir três movimentos: recordar, agradecer e projetar. Recordar, pedindo luz ao Espírito para ver a presença de Deus no ano que termina. Agradecer, reconhecendo que, apesar das nossas falhas, o Senhor sustentou o nosso caminho. Projetar, assumindo compromissos práticos para um Advento mais consciente: mais oração em família, leitura da Palavra de Deus, participação fiel na Eucaristia, gestos de solidariedade concretos e discretos.
Enfim, o encerramento do Ano Litúrgico e a preparação para o Natal nos lembram que o tempo é dom e missão. Cada Ano Litúrgico é um caminho que a Igreja percorre com Cristo, do presépio à cruz, da cruz à ressurreição, da ressurreição à espera da sua vinda gloriosa. Ao fechar mais um ciclo, não estamos simplesmente “terminando” algo, mas dando um passo a mais na história da nossa salvação. E ao abrir o Advento, não estamos apenas “recomeçando o calendário”, mas acolhendo, mais uma vez, o Deus que vem morar conosco, para nos ajudar a ser integralmente melhor.
Que, ao concluir este Ano Litúrgico, possamos colocar aos pés de Cristo Rei tudo o que somos e vivemos, pedindo-lhe um coração novo. E que, ao iniciarmos a preparação para o Natal, deixemos que a luz da manjedoura ilumine as nossas escolhas, para vivermos um tempo de graça, reconciliação e esperança. Assim, o Ano que termina e o Natal que se aproxima se unem num mesmo movimento: deixar Cristo nascer de novo em nós e reinar, com seu amor humilde e forte, em toda a nossa vida.
Colaboração:
Texto de: Pe. Sérgio José de Sousa, OSJ, com ajustes da redação.
Paróquia – Santuário São José, Apucarana/PR.
Fotos: da Redação.
Pe. Sérgio José de Sousa, OSJ. Paróquia-Santuário São José – Apucarana/PR.
Pe. Adeventino Alves de Oliveira, Paróquia São Sebastião, Faxinal/PR.
PASCOM – Paróquia Santuário São José, Apucarana/PR.
PASCOM – Paróquia Santuário N. Sra. Aparecida, Arapongas/PR.
Fotos: Movimento Cursilhos de Cristandade – MCC – Arquidiocese de Maringá/PR.
PASCOM Diocesana – Diocese de Apucarana/PR.
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