A BÍBLIA: PALAVRA DE VIDA – OS EVANGELHOS E A CARTA AOS ROMANOS

A BÍBLIA: PALAVRA DE VIDA – OS EVANGELHOS E A CARTA AOS ROMANOS

A Bíblia Sagrada é o coração pulsante da fé cristã. Nela encontramos a revelação de Deus que se faz Palavra para iluminar os passos da humanidade, orientar a vida e oferecer esperança em meio às lutas cotidianas. Setembro, no Brasil, é tradicionalmente celebrado como o Mês da Bíblia, ocasião em que a Igreja nos convida a renovar o amor pelas Escrituras e a aprofundar a compreensão da mensagem divina. Neste ano, refletimos de modo especial sobre Rm 5,5: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”, palavra que ressoa como um hino de confiança e consolo para todos os que creem.

A centralidade da Bíblia

Antes de nos deter sobre os Evangelhos e sobre a Carta aos Romanos, é importante recordar o lugar da Bíblia na vida da Igreja. Ela não é apenas um livro de histórias ou um compêndio moral, mas é a Palavra viva de Deus, inspirada pelo Espírito Santo, que se comunica em linguagem humana para conduzir-nos à salvação. A leitura orante e atenta das Escrituras nos coloca em contato direto com Cristo, Palavra encarnada, e nos permite discernir os caminhos da fé e da vida.

O Concílio Vaticano II, na constituição Dei Verbum, sublinha que “a Sagrada Escritura deve ser a alma da teologia e o alimento da vida espiritual”. Assim, cada cristão é chamado a abrir o coração à Palavra, para que ela transforme pensamentos, atitudes e ações.

Os Evangelhos: coração da revelação cristã

No centro da Bíblia, especialmente no Novo Testamento, estão os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Eles são o testemunho mais direto sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés, o mestre que ensina a nova Lei no Sermão da Montanha e inaugura o Reino dos céus.

Marcos, o mais breve, mostra um Cristo em ação, Servo de Deus que caminha com pressa para entregar sua vida pela humanidade.

Lucas, com sua sensibilidade histórica e literária, ressalta a misericórdia de Deus e o cuidado de Jesus pelos pobres, marginalizados e pecadores.

João, o evangelista teólogo, revela o mistério profundo de Jesus como Verbo eterno feito carne, aquele que veio para dar vida em abundância.

Os Evangelhos não são meras biografias, mas proclamações de fé. Eles foram escritos para suscitar adesão, para que “creiamos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em seu nome” (Jo 20,31). Neles, vemos como a esperança, o amor e a presença do Espírito Santo já se manifestam na vida de Cristo e de seus discípulos.

A Carta aos Romanos: síntese da fé cristã

Entre todos os escritos de São Paulo, a Carta aos Romanos ocupa lugar especial. Escrita por volta do ano 57 d.C., quando o apóstolo estava em Corinto, é considerada sua obra mais profunda e sistemática. Paulo escreve a uma comunidade cristã de Roma composta por judeu-cristãos e gentios, com o objetivo de apresentar de modo claro o núcleo de sua pregação: a justificação pela fé em Jesus Cristo.

Mais do que uma carta pastoral, Romanos é quase um tratado teológico. Paulo percorre os grandes temas da fé: o pecado que atinge toda a humanidade, a salvação oferecida por Cristo, a vida nova no Espírito e a esperança que sustenta o cristão no meio das tribulações.

No capítulo 5, Paulo destaca que somos reconciliados com Deus não por méritos próprios, mas pelo dom gratuito de Cristo, que morreu por nós quando ainda éramos pecadores. E é nesse contexto que surge o versículo que guia nossa reflexão: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Rm 5,5: A esperança que não decepciona

O versículo de Romanos 5,5 é uma das expressões mais belas do Novo Testamento. Ele une três realidades fundamentais: esperança, amor e Espírito Santo.

Esperança – Em um mundo marcado por crises, guerras, injustiças e sofrimentos, falar de esperança parece quase ingênuo. Mas para Paulo, a esperança cristã não é ilusão ou expectativa vazia. É certeza firme baseada na fidelidade de Deus. A esperança se ancora na morte e ressurreição de Cristo, que venceu o pecado e a morte.

Amor de Deus – A razão da esperança está no amor divino. Deus não apenas nos ama de maneira distante, mas derrama seu amor nos nossos corações. Esse amor não é limitado, mas infinito, constante e transformador.

Espírito Santo – O derramamento do amor acontece por meio do Espírito Santo, que é dom pascal. Ele habita em nós, fortalece nossa fé, anima nossa esperança e nos capacita a viver no amor. O Espírito é presença interior que nos confirma de que não estamos sozinhos.

Assim, a esperança cristã não decepciona porque não depende de forças humanas, mas da fidelidade de Deus e da presença do Espírito Santo.

União entre Evangelhos e Romanos

Os Evangelhos e a Carta aos Romanos se complementam. Enquanto os Evangelhos narram a vida de Jesus e revelam seu rosto misericordioso, Romanos interpreta o sentido profundo desse mistério para a vida da Igreja.

Quando lemos os Evangelhos, vemos Jesus curando, acolhendo, ensinando e dando sua vida por amor. Quando lemos Romanos, entendemos que essa entrega é fonte de justificação, reconciliação e esperança para toda a humanidade.

Em ambos, encontramos a mesma mensagem: o amor de Deus manifestado em Cristo, que gera vida nova no Espírito.

Viver hoje a esperança que não decepciona

Refletir sobre Rm 5,5 e sobre os Evangelhos em setembro é um convite a atualizar a Palavra na vida concreta. O cristão é chamado a ser testemunha de esperança em um tempo em que tantos vivem o desânimo, a descrença e a desesperança.

Na família, a esperança se traduz em paciência, perdão e cuidado mútuo. Na comunidade, ela se manifesta na perseverança no serviço, na solidariedade e no compromisso com os pobres. Na sociedade, a esperança se faz voz profética diante da injustiça, buscando transformar realidades com a força do Evangelho.

O amor de Deus derramado em nossos corações nos impele a não desistir, a acreditar que a vida pode ser diferente quando guiada pela fé em Cristo. A Bíblia não é apenas leitura espiritual, mas força transformadora para a missão.

Conclusão

A Bíblia é Palavra de vida que nos alimenta e sustenta. Os Evangelhos mostram o rosto humano e divino de Jesus, fonte de misericórdia e salvação. A Carta aos Romanos, especialmente no versículo 5,5, nos recorda que a esperança cristã é sólida, porque nasce do amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Neste mês da Bíblia, somos convidados a redescobrir a alegria da Palavra, deixar-nos transformar por ela e viver como discípulos missionários da esperança. Que cada comunidade, família e pessoa possa experimentar, pela escuta da Escritura, a certeza de que a esperança não decepciona, porque é sustentada pelo amor eterno de Deus.

Colaboração:

Texto de: Pe. Sérgio José de Sousa, OSJ, com ajustes da redação.

Paróquia – Santuário São José, Apucarana/PR.

Fotos: da Redação.

Pe. Sérgio José de Sousa, OSJ. Paróquia-Santuário São José – Apucarana/PR.

Pe. Antônio Luiz de Oliveira, Coordenador Provincial dos OSJ.

PASCOM – Paróquia Santuário São José, Apucarana/PR.

Fotos: Movimento Cursilhos de Cristandade – MCC – Arquidiocese de Maringá/PR.

PASCOM Diocesana – Diocese de Apucarana/PR.

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